quinta-feira, 11 de junho de 2009

Resenha: Ortriwano e a Informação no Rádio

* Jorge Carneiro

Gisela Swetlana Ortriwano foi importante pesquisadora do radialismo, sobretudo o brasileiro. Por muito tempo, dedicou-se à orientação dos estudantes que se debruçavam sobre temas ligados ao rádio, à televisão e à multimídia. Formada em Ciências Sociais e em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, além das atividades docentes nas áreas de jornalismo radiofônico e televisionado, comandou o setor de pesquisa do Departamento de Jornalismo da Fundação Padre Anchieta. Até 2003, ano da sua morte, cumpriu intensa agenda, sempre protagonizando debates acalorados sobre temáticas voltadas ao rádio.

Em A Informação no Rádio – os grupos de poder e a determinação dos conteúdos, escrito em 1985 e publicado pela Summus Editorial, Ortriwano reuniu eixos ligados à pesquisa que realizou para sua dissertação de mestrado, defendida em julho de 1982, cujo título era A informação no rádio: critérios de seleção de notícias.

A Informação no Rádio, livro dividido em nove capítulos, distribuídos em 120 páginas, traz à baila a história do rádio no Brasil, da sua fase de implantação, até meados da década de 1980. Ortriwano esmiúça, nessa trajetória, as experiências amadoras promovidas no Rio de Janeiro - que acabaram gerando lastro para a consolidação do rádio no país - a gênese da implantação da rádio comercial e as tendências mercadológicas, suas transformações e consequências. A autora destaca momentos preponderantes para o desenvolvimento da rádio no país, citando marcos em cada uma das décadas, tomando como ponto de partida os anos 20.

O livro, prefaciado por Walter Sampaio, aborda a tendência de especialização das emissoras, o processo de formação de redes nacionais e a origem das rádios livres (piratas), vistas pela autora como forma eficiente de quebrar o monopólio estatal, já que um dos caminhos “naturais” do rádio é a concentração cada vez maior em sistemas de exploração comercial, visando formas mais eficientes de comercialização para a obtenção do lucro, permitindo que o monopólio de controle do Estado seja eficaz.

Ortriwano também analisa, cuidadosamente, a situação das emissoras, aborda os aparelhos e os receptores de diferentes épocas e apresenta um estudo sobre a audiência e seus níveis. Faz análises comparativas da rádio do Brasil com as do mundo, confrontando índices de audiência, horas médias de escuta e percentuais de aquisição de aparelhos. Tudo ilustrado com tabelas, gráficos e gravuras, tornando a leitura mais prazerosa e menos densa, ainda que bastante rica.

A obra destaca um capítulo inteiro para tratar dos sistemas de exploração da radiodifusão. Nele, Gisela Swetlana Ortriwano confronta sistemas estatal e comercial, mergulha nas funções e doutrinas ligadas ao rádio – demagógica, culturalista, dogmática e sociodinâmica - e aborda o poder burocrático e o complexo publicitário, este última de forma mais superficial. Um outro capítulo dedica-se à relação entre política e rádio. A autora faz um histórico da utilização da rádio como instrumento de divulgação da ideologia de grupos, geralmente ligados ao poder. Para enriquecer esse debate, dialoga com autores consagrados, a exemplo de Nicolau Maquiavel e Jean Louis. Os interesses internos e as interferências internacionais dão as coordenadas do debate.

Não ficam de fora de A Informação no Rádio – os grupos de poder e a determinação dos conteúdos temas ligados à economia e ao complexo publicitário; à estrutura radiofônica, características do rádio e mensagem radiofônica; à estrutura jornalística, barreiras e perspectivas dos noticiários nas rádios. No entanto, ganha visibilidade o trecho relacionado às leis da informação. Aqui, o livro mostras as diferenças crassas entre a legislação que regulamenta os meios eletrônicos de comunicação de massa e a que regulamente os impressos. A obra apresenta as origens das leis mais polêmicas e os seus mais diversos desdobramentos. Analisa e Lei de Imprensa e a Lei de Segurança Nacional e sua repercussão no cotidiano noticioso.Por fim, apresenta considerações acerca do Código Brasileiro de Telecomunicações e os dispositivos constitucionais que refletem na radiodifusão.

A obra mais conhecida de Gisela Swetlana Ortriwano chama a atenção pela seriedade e pela riqueza de detalhes. Vanguardista, o livro abre um capítulo novo na discussão da radiodifusão brasileira e contribui, sobremaneira, com uma análise mais aprofundada do jornalismo e de uma das suas mais poderosas vertentes.

* Estudante de jornalismo e professor

Nenhum comentário:

Postar um comentário