* Jorge Carneiro
Emílio Prado, radialista, jornalista e professor da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, aborda, no livro Estrutura da informação radiofônica, temas intimamente ligados ao radiojornalismo, à sua estrutura, às técnicas utilizadas na sua operacionalização e às dificuldades mais percebidas dentro da sua teia de funcionamento. O texto, dividido em oito capítulos, vai da caracterização do rádio como meio - passando por uma análise acerca da notícia, da reportagem e da entrevista radiofônica - ao debate das fórmulas mais viáveis para a organização no rádio, não deixando de fora importantes dicas sobre como construir crônicas e fazer pesquisa para esse tipo de veículo.
Já na introdução da obra, lançada pela Editora Summos em 1989, o autor conceitua o rádio, advogando ser ele “o sistema de distribuição de mensagens mais extenso, ágil e barato com que conta a sociedade atual” (Prado, 1989). Mesmo considerando que a internet, naquele ano, sobretudo no Brasil, ainda era algo surreal para a maior parte da população, as argumentações apresentadas pelo autor continuam, mesmo na dita “era da informática”, bastante atualizadas, demonstrando, em certa medida, a visão de futuro de Prado.
Citando Brecht, ainda mais atual que Emílio Prado, o livro dá conta de alguns limites radiofônicos, trazendo à baila questões como a tendência das rádios em muito mais transmitir informações, que interagir com o seu público, apostando na cadeia, limitada e clássica, emissor-meio-receptor. A ausência da percepção visual também é apresentada como dificultadora, limitadora do rádio. Mas são os aspectos positivos do rádio, mais ainda do radiojornalismo, que chamam a atenção do leitor: velocidade, acesso, informalidade, entre outros tantos.
Prado também dedica parte dos seus escritos aos temas que se relacionam diretamente com técnicas para quem atua ou pretende atuar no rádio e no radiojornalismo. Apresenta dicas sobre clareza, locução, entonação, ritmo, compreensibilidade e vocabulário a serem utilizados no cotidiano profissional. O autor acaba por fazer um “gancho” entre essas técnicas e temas ligados à atualidade e à rapidez da difusão proporcionada pelo rádio. Aqui, destaca duas características essenciais da tecnologia radiofônica: a simultaneidade e a instantaneidade.
Um elevado grau de cumplicidade entre os que atuam no rádio, independentemente de trabalharem com a elaboração da notícia, com a parte mais técnica ou com a locução, é, para Prado, aspecto extremamente relevante. Daí a necessidade da compreensão global do trabalho radiofônico. O autor defende que todos em uma rádio devem ser capazes de se comunicar com o público externo, de “por a boca no microfone”. Assim, até para quem elabora os textos, fica mais fácil saber a forma mais acertada de redigir as notas que serão “contadas” aos ouvintes. Baseado nisso, o livro discorre sobre técnicas da informação e da escrita radiofônica: pontuação, sinais, observância à estrutura gramatical, uso adequado da linguagem, decodificação, tipos de frase, manipulação subjetiva, tempo verbal, etc.
O livro também destaca aspectos ligados às características e à estrutura radiofônica. Lastreado por autores consagrados, como Spencer, Secanella e Martinez Albertos, Prado argumenta sobre a instantaneidade radiofônica e trata da credibilidade e das tipologias das notícias. Esmiúça as formas, em rádio, de se fazer citação, e dedica boa parte de um capítulo ao estudo das entrevistas: notícia com entrevista, entrevista direta, diferida, de caráter, noticiosa, de informação, estrita e em profundidade, dando dicas de como melhor desempenhar cada uma delas. Exemplos práticos de entrevistas são apresentados textualmente pelo autor, que prima em relatar fidedignamente o passo a passo de uma delas.
Estrutura da informação radiofônica também dedica um dos seus capítulos ao estudo da reportagem, considerado pelo autor como sendo “o gênero mais rico entre os utilizados no rádio desde a perspectiva informativa”. O autor fala dos tipos de reportagens (simultânea e diferida) apresentando condutas mais acertadas para desenvolver cada uma delas. Um outro capítulo pontua fórmulas para organizar o debate no rádio. O autor aproveita para caracterizar a mesa-redonda, o próprio debate, o documentário e as entrevistas relacionadas com o tema.
Por fim, o autor separa uma parte do livro para tratar da crônica, e uma outra para falar da pesquisa em rádio. Prado deixa claro que, em radiojornalismo, a crônica são as informações dos correspondentes, que ofertam uma narrativa dos fatos noticiosos que foram produzidos no âmbito sócio e geográfico coberto por eles. Já a pesquisa é apresentada, a partir de uma citação de Faus, como sendo “a tentativa de constatar um estado de opinião entre os componentes individuais de uma sociedade”. Assim, para o autor, “a utilização jornalística da pesquisa é uma fraude, pois nem os meios nem a metodologia oferecem garantias científicas… Sua utilização no rádio somente está justificada como ilustração fragmentária, como imagem curiosa, ou seja, não existe a pesquisa como gênero informativo radiofônico.
Direto e didático, em Estrutura da informação radiofônica, Emilio Prado dá uma verdadeira aula de jornalismo, de rádio e de radiojornalismo. Ilustrando textos e dando exemplos das facilidade e dificuldades encontradas na produção jornalística em rádio, empolga, desmistifica (além de desmitificar) temas espinhosos que envolvem o mundo jornalístico dos que gostam da área das comunicações e dos que atuam ou pretendem atuar, ou apenas conhecer, a produção e a vivência radiofônica.
* Estudante de jornalismo e professor