domingo, 31 de maio de 2009

Resenha: Emílio Prado e a estrutura da informação radiofônica

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* Jorge Carneiro


Emílio Prado, radialista, jornalista e professor da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, aborda, no livro Estrutura da informação radiofônica, temas intimamente ligados ao radiojornalismo, à sua estrutura, às técnicas utilizadas na sua operacionalização e às dificuldades mais percebidas dentro da sua teia de funcionamento. O texto, dividido em oito capítulos, vai da caracterização do rádio como meio - passando por uma análise acerca da notícia, da reportagem e da entrevista radiofônica - ao debate das fórmulas mais viáveis para a organização no rádio, não deixando de fora importantes dicas sobre como construir crônicas e fazer pesquisa para esse tipo de veículo.

Já na introdução da obra, lançada pela Editora Summos em 1989, o autor conceitua o rádio, advogando ser ele “o sistema de distribuição de mensagens mais extenso, ágil e barato com que conta a sociedade atual” (Prado, 1989). Mesmo considerando que a internet, naquele ano, sobretudo no Brasil, ainda era algo surreal para a maior parte da população, as argumentações apresentadas pelo autor continuam, mesmo na dita “era da informática”, bastante atualizadas, demonstrando, em certa medida, a visão de futuro de Prado.

Citando Brecht, ainda mais atual que Emílio Prado, o livro dá conta de alguns limites radiofônicos, trazendo à baila questões como a tendência das rádios em muito mais transmitir informações, que interagir com o seu público, apostando na cadeia, limitada e clássica, emissor-meio-receptor. A ausência da percepção visual também é apresentada como dificultadora, limitadora do rádio. Mas são os aspectos positivos do rádio, mais ainda do radiojornalismo, que chamam a atenção do leitor: velocidade, acesso, informalidade, entre outros tantos.

Prado também dedica parte dos seus escritos aos temas que se relacionam diretamente com técnicas para quem atua ou pretende atuar no rádio e no radiojornalismo. Apresenta dicas sobre clareza, locução, entonação, ritmo, compreensibilidade e vocabulário a serem utilizados no cotidiano profissional. O autor acaba por fazer um “gancho” entre essas técnicas e temas ligados à atualidade e à rapidez da difusão proporcionada pelo rádio. Aqui, destaca duas características essenciais da tecnologia radiofônica: a simultaneidade e a instantaneidade.

Um elevado grau de cumplicidade entre os que atuam no rádio, independentemente de trabalharem com a elaboração da notícia, com a parte mais técnica ou com a locução, é, para Prado, aspecto extremamente relevante. Daí a necessidade da compreensão global do trabalho radiofônico. O autor defende que todos em uma rádio devem ser capazes de se comunicar com o público externo, de “por a boca no microfone”. Assim, até para quem elabora os textos, fica mais fácil saber a forma mais acertada de redigir as notas que serão “contadas” aos ouvintes. Baseado nisso, o livro discorre sobre técnicas da informação e da escrita radiofônica: pontuação, sinais, observância à estrutura gramatical, uso adequado da linguagem, decodificação, tipos de frase, manipulação subjetiva, tempo verbal, etc.

O livro também destaca aspectos ligados às características e à estrutura radiofônica. Lastreado por autores consagrados, como Spencer, Secanella e Martinez Albertos, Prado argumenta sobre a instantaneidade radiofônica e trata da credibilidade e das tipologias das notícias. Esmiúça as formas, em rádio, de se fazer citação, e dedica boa parte de um capítulo ao estudo das entrevistas: notícia com entrevista, entrevista direta, diferida, de caráter, noticiosa, de informação, estrita e em profundidade, dando dicas de como melhor desempenhar cada uma delas. Exemplos práticos de entrevistas são apresentados textualmente pelo autor, que prima em relatar fidedignamente o passo a passo de uma delas.

Estrutura da informação radiofônica também dedica um dos seus capítulos ao estudo da reportagem, considerado pelo autor como sendo “o gênero mais rico entre os utilizados no rádio desde a perspectiva informativa”. O autor fala dos tipos de reportagens (simultânea e diferida) apresentando condutas mais acertadas para desenvolver cada uma delas. Um outro capítulo pontua fórmulas para organizar o debate no rádio. O autor aproveita para caracterizar a mesa-redonda, o próprio debate, o documentário e as entrevistas relacionadas com o tema.

Por fim, o autor separa uma parte do livro para tratar da crônica, e uma outra para falar da pesquisa em rádio. Prado deixa claro que, em radiojornalismo, a crônica são as informações dos correspondentes, que ofertam uma narrativa dos fatos noticiosos que foram produzidos no âmbito sócio e geográfico coberto por eles. Já a pesquisa é apresentada, a partir de uma citação de Faus, como sendo “a tentativa de constatar um estado de opinião entre os componentes individuais de uma sociedade”. Assim, para o autor, “a utilização jornalística da pesquisa é uma fraude, pois nem os meios nem a metodologia oferecem garantias científicas… Sua utilização no rádio somente está justificada como ilustração fragmentária, como imagem curiosa, ou seja, não existe a pesquisa como gênero informativo radiofônico.

Direto e didático, em Estrutura da informação radiofônica, Emilio Prado dá uma verdadeira aula de jornalismo, de rádio e de radiojornalismo. Ilustrando textos e dando exemplos das facilidade e dificuldades encontradas na produção jornalística em rádio, empolga, desmistifica (além de desmitificar) temas espinhosos que envolvem o mundo jornalístico dos que gostam da área das comunicações e dos que atuam ou pretendem atuar, ou apenas conhecer, a produção e a vivência radiofônica.

* Estudante de jornalismo e professor

sábado, 30 de maio de 2009

Brasil: matéria aborda baixo índice de leitura

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Mais uma produção experimental da disciplina Telefornalismo I, ministrada pela professor Cristina Mascarenhas, na Faculdade 2 de Julho. Trata-se da minha primeira matéria televisiva.

"Nu Caixa": os celulares e as suas possibilidades


Os estudantes do sexto semestre do curso de jornalismo da Faculdade 2 de Julho estão produzindo como nunca. As disciplinas do período, sobretudo telejornalismo e radiojornalismo, estão dando importante contribuição para que isso ocorra. Musicais, rádio-novelas, noticiários para rádio, matérias para tv ...

Postarei aqui, periodicamente, o que for produzido por mim.
Para abrir a série, uma pequena produção feita em parceria com Darfine, ex-colega de sala. A filmagem e a edição foram feitos durante oficina promovida pela professora Dani, de Radiojornalismo. Foi tudo muito divertido e rápido.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Coronel Jorge Santana é suspeito de lavar dinheiro

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Enquanto a enquete do blog aguarda votos, pipoca mais uma novidade nefasta sobre o coronel da Polícia Militar da Bahia, Jorge Santana, ex-comandante da corporação.

Ontem, a sobrinha dele, Miriam Nanci Santana Ferreira, 39 anos, empresária do ramo de açougues; o fazendeiro Zuldário Ribeiro de Oliveira; e o açougueiro João Francisco dos Santos, 50, que teria participação nos negócios de Nanci, prestaram depoimentos na sede do Centro de Operações Especiais da Polícia Civil (COE), após uma espécie de convite. Eles foram surpreendidos por volta das 6h, com o cumprimento dos mandados, em Candeias e Feira de Santana.

A suspeita agora é que o coronel, tão homenageado durante o período em que comandou a PM da Bahia, tenha também participação no ramo criminoso de lavagem de dinheiro.

Confira ...

Poesia (e jornais) para crianças


Por Luciano Martins Costa em 28/5/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 28/5/2009

A edição de quinta-feira (28/5) da Folha de S.Paulo publica, com chamada na primeira página, mais um caso de livro inapropriado distribuído às crianças da rede oficial de ensino paulista. O texto questionado é um poema do designer gráfico e escritor Joca Reiner Terron, que também produz um blog com relatos de viagem e outros comentários. Segundo o autor, citado pela Folha, o poema é realmente inapropriado para crianças. Mas o poema "Manual de Auto-Ajuda para Supervilões", parte do livro intitulado Hotel Hell, pode também não ser próprio para adolescentes, como afirma o jornal. E talvez nem possa ser considerado um poema.

A empresa Abril Educação, do Grupo Abril e ao qual pertence a Editora Ática, produtora do livro didático, afirma, em nota reproduzida pela Folha de S.Paulo, que o livro é recomentado para adolescentes de 13 anos. A Folha não discute essa afirmação, mas o leitor pode julgar por si.

O texto distribuído para crianças de 9 anos e que, segundo aceita o jornal, seria apropriado para adolescentes de 13, diz mais ou menos o seguinte, retirados trechos também impróprios para leitura em público:

"Ao nascer, aproveite seu próprio umbigo e estrangule toda a equipe médica".


Mais que o registro


Só nessa primeira frase a obra mereceria algum reparo antes de ser selecionada, pois o autor confunde umbigo com o cordão umbilical. Mas sigamos. Diz o suposto poema:

"Não vá se entusiasmar e matar sua mãe/ até supervilões precisam ter mães/ (...) tome drogas pra car…/ É sempre aconselhável ver o panorama pelo alto/ Nunca ame ninguém. Estupre/ Execre o amável, zele pelo abominável, seja um pouco afeminado (…)" – e por aí vai.

A qualidade, o valor e a própria natureza de um poema sempre carregam uma dose elevada de subjetividade, mas já que resolveu alimentar a polêmica, o jornal deveria ir mais fundo e questionar o processo de escolha dos conteúdos que são produzidos por editoras privadas contratadas pelo Estado para a produção de material educacional.

Afinal, a sequência de erros nos livros didáticos distribuídos à rede escolar de São Paulo já merece mais do que um mero registro da imprensa. Já se trata de um caso endêmico de equívocos graves.

Jornais para crianças


O tema da publicação de material impróprio para crianças em livros didáticos poderia inspirar alguma reflexão sobre outras questões associadas, como a dos cadernos dos jornais destinados ao público infantil e adolescente.

Sem resvalar para o trauma da censura, que a sociedade brasileira tem ojeriza de enfrentar desde o processo de redemocratização, talvez fosse conveniente também avaliar as histórias em quadrinhos e outros conteúdos que são oferecidos nesses suplementos inseridos nos diários.

Quem sabe algum educador ou especialista em psicologia infantil se disponha a discutir o efeito, sobre a formação das crianças, de personagens de quadrinhos que fazem a apologia do uso de drogas, por exemplo. Afinal, jornal de papel não tem um sistema que permita bloquear conteúdos indesejados, como na TV a cabo ou na internet.

E o leitor atento há de notar que a linguagem utilizada nos cadernos dirigidos a adolescentes é até mais liberal do que aquela aplicada às partes do jornal supostamente destinadas aos adultos.


Mais atenção


Evidentemente, uma discussão desse tipo haveria de provocar reações iradas de muitos editores e com certeza se levantaria a bandeira da liberdade de imprensa contra tal ousadia extremada. Mas, assim como os jornais podem e devem examinar e julgar os conteúdos distribuídos pelo Estado nas escolas públicas, talvez o público devesse poder discutir abertamente o conteúdo que os jornais dirigem especificamente a crianças e adolescentes.

Vivemos em uma sociedade que repudia os controles e valoriza especialmente as liberdades. Ninguém, em sã consciência cívica, defenderia o retorno ao controle do Estado sobre a comunicação social, mas não se pode omitir o fato de que alguns conteúdos de jornais merecem ser melhor analisados.

Gilson Caroni Filho: o antigo silêncio dos influenciáveis


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Nada como folhear revistas e jornais antigos para constatarmos a eterna briga do jornalismo de mercado com fatos que incomodam seus interesses e os dos eternos aliados no campo político.

Por Gilson Caroni Filho*, na Carta Maior


No momento em que tucanos e demos voltam à ofensiva, através de uma CPI que vai bem além da dimensão eleitoreira, adentrando o terreno do entreguismo puro e simples, convém recordar como eram tratadas questões estratégicas nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Ainda mais quando sabemos que o verdadeiro alvo é o marco regulatório do pré-sal, em um eventual retorno do consórcio neoliberal ao poder.

Voltemos no tempo, mais precisamente a março de 2004. Como reagiria a opinião pública de uma nação soberana se tomasse conhecimento, por meio de conceituada publicação jornalística, que sua Polícia Federal foi comprada por serviços de inteligência de um país estrangeiro? Que as instituições republicanas são inteiramente controladas por redes de espionagem, e setores expressivos da imprensa local cooptados para produzir uma imagem favorável aos interesses da potência controladora?

Seria impossível conter o terremoto político advindo de tais revelações, salvo se um isolamento acústico fosse imediatamente construído por aqueles que elaboram a agenda da opinião pública. E é nesse ponto, no silêncio consensual do complexo midiático, que reside a atualidade deste pequeno artigo.

Reportagem de capa da edição de CartaCapital, com data de 19/3/2004 ,trouxe à tona um personagem que poderia ter saído das páginas de qualquer romance de John Le Carré. Versão tão patética quanto real do "espião que sabia demais", o português naturalizado americano Carlos Costa chefiou o FBI no Brasil de 1999 a outubro de 2003. Na época, em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, ele foi categórico:

"Os Estados Unidos compraram a Polícia Federal. Há um antigo ditado, e ele é real: quem paga dá as ordens, mesmo que indiretamente".

Não descartando a possibilidade de alguma agência americana ter grampeado o Palácio da Alvorada e o Itamaraty, Costa disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ao pedir equipamentos e recursos ao mundo todo, "se prostitui".

Não menos contundente foi sua afirmação segundo a qual uma das mais importantes funções da embaixada americana no país era manipular a imprensa brasileira. Usando, eufemisticamente o verbo influenciar, o ex-agente não poderia ter sido mais claro:

"Detectamos jornalistas que sejam pró-América e os convidamos a ir aos Estados Unidos com todas as despesas pagas. Essa não era minha área, mas começa assim. Influenciar é mudar o pensamento contrário aos nossos interesses".

E qual seria o modus operandi? Mais uma vez, Carlos Costa foi direto: "Seja lá o que for necessário. Se é comprar, é comprar, há várias maneiras. Mas deixa isso pra lá".

Eis o cenário da realidade brasileira no reinado de Fernando Henrique Cardoso. Agindo com total desenvoltura, uma profusão de siglas tais como a US Customs, DEA, NAS, CIA e FBI faziam de nossa legislação letra morta e tornavam o conceito de soberania nacional, numa perspectiva otimista, uma hipótese a ser permanentemente verificada. Tínhamos, enfim, polícias compradas e submetidas a comandos externos, uma Abin supostamente controlada e formadores de opinião "influenciados". O quadro se tornava mais dramático quando o monitoramento de setores estratégicos do governo era apresentado como rotina.

O que chamou a atenção, há cinco anos, foi a ausência de repercussão da matéria de CartaCapital no Congresso e, acima de tudo, em outros veículos jornalísticos. Por conta de episódios de gravidade bem menor, o conservadorismo põe-se a falar em crise de governo, perda de capacidade administrativa e riscos à coesão social. Clama-se pela instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito e o alarido udenista se reflete nos editoriais das empresas que abrigam aqueles a quem Costa chama de "os influenciáveis".

A título de exemplo, por que a denúncia da revista dirigida por Mino Carta não provocou, à época, a mesma comoção que o destempero do então ministro José Dirceu em entrevista ao jornalista Merval Pereira, de O Globo?

Desde sua publicação, o espaço concedido à reportagem de Bob Fernandes foi praticamente inexistente. Uma ou outra nota, até o abafamento total. Qual terá sido o motivo do silêncio reinante nas redações dos principais jornais e revistas do eixo Rio-São Paulo quando o assunto é a ingerência imperialista na política brasileira?

Há nove anos, CartaCapital sistematicamente denuncia o aparelhamento do Estado por agências americanas. Para ser mais preciso, vem historiando um processo que se inicia em 12/4/1995, quando é assinado o Acordo para Combate ao Narcotráfico, e se estende aos dias de hoje, com a DEA efetuando pagamentos a policiais brasileiros.

Na edição de 3/3/1999, a revista já apresentava a CIA controlando o antigo Centro de Dados Operacionais (CDO). À época, Fernando Henrique Cardoso teve grampeada uma conversa com o então chefe do Cerimonial da Presidência da República, embaixador Júlio César Gomes dos Santos.

A que devemos o silêncio dos "influenciáveis?" Traria a matéria denúncias graves sem a verificação adequada? Ausência de fundamentação empírica que indicasse sensacionalismo ingênuo ou petição conspiracionista? Não, CartaCapital tem feito um belo trabalho investigativo. Na edição de 2004, à riqueza de detalhes somam-se fotos que documentam a desenvoltura de Carlos Costa nos salões do poder.

Seria conseqüência da lógica concorrencial das empresas jornalísticas, ignorar os fatos noticiados por veículos rivais? Ante a magnitude do assunto, era pouco plausível uma argumentação de cunho puramente mercantil. O mais sensato seria aprofundar a matéria, focalizando atores políticos relevantes, diretamente envolvidos na questão, tais como militares e estrategistas.

Estaríamos, então, nos deparando com um fenômeno hierárquico presente no interior do campo jornalístico? A existência de um veículo, e apenas um, que pautaria os demais? A história recente da imprensa brasileira impossibilita tal conjectura. Diferentes publicações puxaram o fio da meada de assuntos relevantes e foram seguidas pelas demais. Basta lembrar que o impeachment de Collor começou nas páginas da revista Veja e os principais escândalos do governo FHC foram inicialmente noticiados pela Folha de S.Paulo.

Talvez o desdobramento mais importante da matéria de capa da revista dirigida por Mino Carta tenha sido a ausência de desdobramentos. O silêncio gritante do resto da mídia realçou ainda mais as palavras do agente Carlos Costa, quando define a ação dos serviços secretos sobre os seus diletos profissionais de redação: "Influenciar é mudar o pensamento contrário aos nossos interesses".

Talvez isso nos ajude a entender o arrazoado de certos colunistas em defesa da CPI da Petrobrás, talvez compreendamos com mais facilidade os princípios que norteiam articulistas zelosos na defesa da política externa que privilegiava os objetivos de grandes conglomerados. Quem sabe, nesse prosaico episódio, redescoberto no folhear de um exemplar antigo da melhor publicação brasileira, esteja desnudada a política editorial de várias publicações.

Alguém pode retrucar que a argumentação desenvolvida no parágrafo acima é simplificadora. Certamente. Mas, enquanto os "influenciáveis" não romperem seu pacto de silêncio, qualquer teoria conspiratória terá relevância analítica. Ou repetindo a sabedoria do senso comum: "Quem cala, consente". Just do it.

É bom relembrar quando uma nova batalha se avizinha.

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa

Mídia na América Latina: um setor que tudo pode

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Por Mário Augusto Jakobskind, no Direto da Redação



A sociedade civil do continente está se aprofundando na questão da mídia e não aceita que os espaços midiáticos continuem sob o domínio absoluto de um patronato que tudo pode. No Brasil, o tema da democratização dos meios de comunicação está na ordem do dia. O patronato não aceita nem discutir e responde sempre com o argumento, confundindo liberdade de imprensa e expressão com liberdade de empresa.

Vale então o registro do que acabou de acontecer na Bolívia, até porque este tipo de informação dificilmente é divulgado nos espaços midiáticos conservadores. Por lá, o presidente Evo Morales aprovou decreto reservando espaços dos meios de comunicação para a livre opinião dos jornalistas e outros trabalhadores ligados a sindicatos de imprensa.

O porta-voz da Presidência, Iván Canelas, revelou que todas as opiniões serão assinadas e os meios impressos deverão fornecer o mesmo espaço que se destina aos editoriais. No caso de rádios e televisões, serão disponibilizados três minutos para uso diário.

Alguém deve estar perguntando: mas quem garante que os profissionais de imprensa que emitirem opinião contrária ao da empresa não serão vítimas de represália? Prevendo essa possibilidade, o decreto proíbe qualquer ação repressiva contra quem expôs ponto de vista divergente ao da empresa onde trabalha.

Não será surpresa se o decreto for criticado pela Sociedade Interamericana de Imprensa, que certamente dirá que a liberdade de imprensa corre perigo na Bolívia. O patronato do setor tenta ignorar um fato concreto: proprietário de veículo de comunicação é diferente de um dono de fábrica de salsichas ou algo do gênero.

Antes de o lucro contemplar os seus bolsos, os proprietários de jornais, televisões e rádios têm a obrigação de respeitar a opinião pública e aceitar a pluralidade. Não podem agir como se notícias fossem apenas mercadorias e está acabado.

O Equador é outro país em que a mídia está em debate. No Fórum Equatoriano da Comunicação diversas organizações sociais analisam a proposta de uma nova Lei de Comunicação, que será apreciada pela Assembléia Nacional, que terá até outubro próximo para aprovar uma nova legislação do setor.

O Fórum propõe, entre outras coisas, a divisão eqüitativa dos espaços midiáticos: 33% para os setores público, privado e comunitário. Não se surpreendam, portanto, se em breve a SIP, em parceria com a Organização dos Estados Americanos (OEA) voltar às baterias contra o Equador.

A Argentina também está discutindo uma nova legislação na área midiática. O governo de Cristina Kirchner, que recém enviou projeto para a discussão do tema no Congresso, vem sofrendo duras críticas dos setores conservadores, que se repetem nos diversos meios de comunicação do continente. Ou seja, mesma pauta, mesmos pontos de vista, mesmo tudo, para evitar questionamentos e impedir que a democracia avance nos espaços midiáticos.

No Brasil, o patronato está se armando para evitar que em dezembro próximo, quando será realizada a Conferência Nacional de Comunicação, haja um avanço no processo de democratização dos meios de comunicação.

Como por aqui a mídia hegemônica tudo pode, sem questionamentos, acabou de acontecer um fato lamentável, para variar envolvendo a Rede Globo. Num dos capítulos do seriado Força Tarefa foi abordado o tema milícia, tendo como cenário a comunidade de Rio das Pedras, controlada por paramilitares (milicianos) e teve como ator coadjuvante José Roberto Moreth, mais conhecido como Beto Bomba, no papel de corregedor.

O “ator” da Globo, que também preside a Associação de Moradores de Rio das Pedras, foi apontado pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Deputado Marcelo Freixo, como uma das 225 pessoas envolvidas com as milícias. Beto Bomba está sendo investigado pelo Ministério Público e é acusado de homicídio e extorsão. A Globo ainda por cima desrespeitou a legislação que exige o registro profissional de ator.

Será que os responsáveis pelo seriado não sabiam disso? Ou será que, como acreditam que a Rede Globo tudo pode, nada acontece, não tem problema algum transformar um marginal como Beto Bomba em ator?

Não é de hoje que a teledramaturgia da Rede Globo faz das suas. Na novela Duas Caras, escrita por Aguinaldo Silva, teve um personagem, Juvenal Portela, interpretado por Antonio Fagundes, que era miliciano. Aguinaldo possivelmente também se inspirou em Rio das Pedras, que na ficção era a Portelinha.

Por estas e muitas outras, os espaços midiáticos não podem agir como bem entendem, visando apenas a corrida desenfreada pelo ibope. E questionar isso não é censura, como muitas vezes acusam os barões da mídia e seus áulicos.

Em tempo: Ao se encontrar neste fim de semana com o presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez, o presidente do Equador, Rafael Correa, disse que quando estiver presidindo a Unasul (União dos países sul-americanos) vai propor formalmente a criação de instâncias que defendam os cidadãos e os governos eleitos legitimamente dos abusos da imprensa. Correa considera a imprensa equatoriana "corrupta, instrumento da oligarquia" e principal "inimigo da mudança", tanto em seu país como na Venezuela.