sábado, 27 de junho de 2009

A morte de Michael Jackson e a força das redes sociais


Enquanto no 11 de Setembro o meio de comunicação mais importante foi a televisão e na vitória de Barack Obama foram os sites dos grandes jornais, na morte de Michael Jackson ganharam protagonismo o Twitter e o Facebook. Blogs e meios de comunicação digitais como o TMZ — que deu a notícia em primeira mão — passaram a frente de veículos consolidados na cobertura da morte do astro pop. Algumas páginas tiveram até o acesso momentaneamente congestionado pelo excesso de visitas.

Foi o TMZ — e não a emissora CNN — o primeiro meio que, às 18h20 (de Brasília) da última quinta-feira, informou que o "rei do pop" tinha morrido, oferecendo, inclusive, uma imagem da ambulância que levou Jackson ao hospital. Nas redações dos meios de comunicação mais emblemáticos do jornalismo americano, ninguém se atreveu a dar a notícia — até que o site do Los Angeles Times confirmou a morte, seguido pela agência Associated Press.

As grandes emissoras de televisão foram obrigadas a citar o TMZ e tiveram de mudar o mais rápido possível o conteúdo dos jornais da noite — que, a princípio, homenageariam a atriz Farrah Fawcett, que também morreu nesta quinta. Enquanto isto acontecia, milhões de pessoas souberam da notícia por redes sociais como Facebook ou Twitter, onde Michael Jackson dominava a discussão. O serviço chegou a cair em alguns momentos pelo excesso de visitas.

"O número de mensagens por segundo dobrou no momento em que se soube a notícia e as pessoas começaram a dar suas condolências e lembranças", disse o cofundador do Twitter, Biz Stone, à imprensa americana. Por volta de 13h50 (de Brasília), os dois primeiros termos mais twittados continuavam sendo alusivos a Michel Jackson. Entre os dez primeiros, seis faziam referência ao cantor, incluindo as palavras "pop", "thriller" e "MTV".

O Twitter era também o meio escolhido por dezenas de famosos e personalidades para expressar as condolências pela morte do rei do pop, mensagens que eram depois reproduzidas pelas grandes emissoras de televisão. "Agora a 'AP' também confirma. RIP. Enviando amor e luz à sua família e amigos, mas sobretudo aos filhos", twittava nesta quinta o ator Ashton Kutcher, o "rei do Twitter" com mais de dois milhões de seguidores.

Mas nem todos os internautas estavam conectados no microblogging. A enciclopédia on-line Wikipedia, por exemplo, registrava ontem uma incomum atividade e seus usuários se apressavam a editar e reeditar o perfil do cantor. No Facebook, Michael era um tema recorrente nos perfis e comentários de milhões de membros — e a rede social era usada também por muitos para organizar vigílias e encontros em homenagem ao artista.

Em questão de horas, o YouTube ficou inundado com os vídeos dos sucessos do cantor ou mensagens de usuários que postavam gravações expressando seus pêsames sobre a perda do músico. O site tinha criado hoje um canal exclusivo sobre Michael Jackson, e o vídeo de Thriller, possivelmente a obra-prima do artista, registrava nada menos que 38 milhões de visitas.

No Google, proprietário do YouTube, 50 das cem buscas destacadas nos Estados Unidos foram sobre Michael Jackson, informou o site de buscas em comunicado. O Google acrescenta que "também houve um aumento enorme nas buscas de letras para as canções: Thriller, Man in the Mirror, Billie Jean e Childhood, nesta ordem". Além disso, os usuários do Google News tiveram problemas para ter acesso às notícias sobre a morte de Michael em alguns momentos do dia porque a página estava saturada.

Da redação do Portal Vermelho, com agências

terça-feira, 16 de junho de 2009

São João: tempo de fogos


E aí, o arsenal já está pronto para as brincadeiras de São João? Na Paralela, na feira de fogos, são 18 barracas, abertas até as 22 horas, diariamente. Todas elas oferecem diversas opções para a meninada. Os adultos também não foram esquecidos. Há fogos destinados a eles. A feira, situada próxima à Faculdade Jorge Amado, é uma ótima alternativa para comprar fogos rotulados e de boa procedência.

O movimento ainda não está tão intenso, mas é bom se apressar. As compras podem ser feitas em dinheiro ou via cartão de crédito/débito. Os preços estão variando muito entre uma barraca e outra. Traques de massa, por exemplo, oscilam entre R$ 9 e R$ 12 (embalagem com 20 caixas). As chuvinhas também apresentam cifras diferentes. A depender do tipo, os valores registram diferenças de até 25%. Portanto, é bom circular bastante.

Além de pesquisar, a pechincha deve ser prática corriqueira entre os que desejam fazer bons e econômicos negócios. Brindes também costumam ser dados pelos proprietários da lojas, mas só para os chorões.

PREÇO MÉDIO DE ALGUNS FOGOS DE ARTIFÍCIO NA FEIRA DE SALVADOR

Traque de massa – R$ 9, pacote com 20 caixinhas

Estrelinha – R$ 2, caixa com 10 unidades

Chuvinha – tem de tudo quanto é tipo, com preços variando de R$ 0,50 a R$ 20 (bastões). As de tamanho médio, vendidas em caixa com 10 unidades, variam de R$ 8 a R$ 10. Há também as mais simples (tamanho médio), vendidas em pacotes de seis unidades, que custam R$ 2. Estas, segundo os vendedores, não são boas porque “dão duas rodadinhas e apagam rápido”.
Base de mísseis - R$ 7 a unidade.

Vulcões – a partir de R$ 0,60 (bem pequenos) até R$ 20. Uma caixa com seis, tamanho médio, sai por R$ 12 a R$ 15.

Foguete – R$ 20, caixa com seis unidades.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Resenha: Ortriwano e a Informação no Rádio

* Jorge Carneiro

Gisela Swetlana Ortriwano foi importante pesquisadora do radialismo, sobretudo o brasileiro. Por muito tempo, dedicou-se à orientação dos estudantes que se debruçavam sobre temas ligados ao rádio, à televisão e à multimídia. Formada em Ciências Sociais e em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, além das atividades docentes nas áreas de jornalismo radiofônico e televisionado, comandou o setor de pesquisa do Departamento de Jornalismo da Fundação Padre Anchieta. Até 2003, ano da sua morte, cumpriu intensa agenda, sempre protagonizando debates acalorados sobre temáticas voltadas ao rádio.

Em A Informação no Rádio – os grupos de poder e a determinação dos conteúdos, escrito em 1985 e publicado pela Summus Editorial, Ortriwano reuniu eixos ligados à pesquisa que realizou para sua dissertação de mestrado, defendida em julho de 1982, cujo título era A informação no rádio: critérios de seleção de notícias.

A Informação no Rádio, livro dividido em nove capítulos, distribuídos em 120 páginas, traz à baila a história do rádio no Brasil, da sua fase de implantação, até meados da década de 1980. Ortriwano esmiúça, nessa trajetória, as experiências amadoras promovidas no Rio de Janeiro - que acabaram gerando lastro para a consolidação do rádio no país - a gênese da implantação da rádio comercial e as tendências mercadológicas, suas transformações e consequências. A autora destaca momentos preponderantes para o desenvolvimento da rádio no país, citando marcos em cada uma das décadas, tomando como ponto de partida os anos 20.

O livro, prefaciado por Walter Sampaio, aborda a tendência de especialização das emissoras, o processo de formação de redes nacionais e a origem das rádios livres (piratas), vistas pela autora como forma eficiente de quebrar o monopólio estatal, já que um dos caminhos “naturais” do rádio é a concentração cada vez maior em sistemas de exploração comercial, visando formas mais eficientes de comercialização para a obtenção do lucro, permitindo que o monopólio de controle do Estado seja eficaz.

Ortriwano também analisa, cuidadosamente, a situação das emissoras, aborda os aparelhos e os receptores de diferentes épocas e apresenta um estudo sobre a audiência e seus níveis. Faz análises comparativas da rádio do Brasil com as do mundo, confrontando índices de audiência, horas médias de escuta e percentuais de aquisição de aparelhos. Tudo ilustrado com tabelas, gráficos e gravuras, tornando a leitura mais prazerosa e menos densa, ainda que bastante rica.

A obra destaca um capítulo inteiro para tratar dos sistemas de exploração da radiodifusão. Nele, Gisela Swetlana Ortriwano confronta sistemas estatal e comercial, mergulha nas funções e doutrinas ligadas ao rádio – demagógica, culturalista, dogmática e sociodinâmica - e aborda o poder burocrático e o complexo publicitário, este última de forma mais superficial. Um outro capítulo dedica-se à relação entre política e rádio. A autora faz um histórico da utilização da rádio como instrumento de divulgação da ideologia de grupos, geralmente ligados ao poder. Para enriquecer esse debate, dialoga com autores consagrados, a exemplo de Nicolau Maquiavel e Jean Louis. Os interesses internos e as interferências internacionais dão as coordenadas do debate.

Não ficam de fora de A Informação no Rádio – os grupos de poder e a determinação dos conteúdos temas ligados à economia e ao complexo publicitário; à estrutura radiofônica, características do rádio e mensagem radiofônica; à estrutura jornalística, barreiras e perspectivas dos noticiários nas rádios. No entanto, ganha visibilidade o trecho relacionado às leis da informação. Aqui, o livro mostras as diferenças crassas entre a legislação que regulamenta os meios eletrônicos de comunicação de massa e a que regulamente os impressos. A obra apresenta as origens das leis mais polêmicas e os seus mais diversos desdobramentos. Analisa e Lei de Imprensa e a Lei de Segurança Nacional e sua repercussão no cotidiano noticioso.Por fim, apresenta considerações acerca do Código Brasileiro de Telecomunicações e os dispositivos constitucionais que refletem na radiodifusão.

A obra mais conhecida de Gisela Swetlana Ortriwano chama a atenção pela seriedade e pela riqueza de detalhes. Vanguardista, o livro abre um capítulo novo na discussão da radiodifusão brasileira e contribui, sobremaneira, com uma análise mais aprofundada do jornalismo e de uma das suas mais poderosas vertentes.

* Estudante de jornalismo e professor

terça-feira, 9 de junho de 2009

TCA: Concerto Didático reúne duas orquestras na quarta-feira


O público infanto-juvenil terá na próxima quarta-feira um programa musical de qualidade: a Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) e a Orquestra Sinfônica Juvenil Dois de Julho (J2J), do projeto Neojibá, realizam conjuntamente um Concerto Didático no Teatro Castro Alves (TCA). Um total de 160 músicos das duas orquestras estará no palco da sala principal para apresentar Mamãe Ganso, ou Ma Mère L’Oie, de Maurice Ravel, e na segunda parte do concerto a Abertura da composição Os Mestres Cantores de Nuremberg, de Richard Wagner, sob a regência do maestro Ricardo Castro.

Mamãe Ganso foi concebida originalmente para piano a quatro mãos, entre 1908 e 1910, e só depois transformada em uma obra sinfônica. A obra foi composta em homenagem a duas crianças: Mimie e Jean, filhos de dois grandes amigos do compositor francês. Esta versão para piano foi criada para ser tocada por jovens mãos e sua primeira execução pública, em abril de 1910, foi realizada, justamente, por duas crianças de 10 e seis anos de idade, e publicada, ainda em 1910, sob o título de Cinco Peças Infantis.

Os Mestres Cantores de Nuremberg foi composta em 1867 e é considerada uma das obras-primas do compositor alemão Richard Wagner. É uma ópera alegre, que exalta o passado renascentista alemão. O projeto Concerto Didático tem caráter lúdico e objetiva formar plateia. Durante a apresentação, o narrador fala sobre a importância de cada instrumento para a composição da orquestra e suas peculiaridades. Um super programa para todas as idades!

SERVIÇO

CONCERTO DIDÁTICO – Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) e a Orquestra Sinfônica Juvenil Dois de Julho (J2J)
Dia 10/06/09 ( quarta-feira)
Horário: 16h30
Local: Sala Principal -TCA
Entrada: gratuita
Direção cênica, texto original, cenário, figurino e narração: Rita Carelli.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Bing já é o segundo maior site de buscas


O Bing, novo buscador da Microsoft, no seu terceiro dia de existência já havia ultrapassado o Yahoo Search entre os sites de buscas. Os dados foram divulgados pela StatCounter, empresa de análise online.

A ferramenta foi apresentada no início da semana passada, chegando em 4 de junho ao posto de segundo buscador mais utilizado no mundo. Segundo informações do IDGNow!, o Bing conseguiu 16,2% do mercado nos Estados Unidos, enquanto o Yahoo! ficou com 10,2%. Ao redor do mundo, o número ficou em 5,6% e 5,1%, respectivamente.

Para Aodhan Cullen, CEO da StatCounter, o alcance da ferramenta da Microsoft pode ser justificado pela novidade que ele representa. O objetivo da companhia era fazer com que o Bing chegasse à segunda colocação no setor em cinco anos.

Shar VanBoskirk, analista da Forrester Research, afirmou que ainda não é possível avaliar a real participação do buscador no mercado e ressalta que a novidade é parecida com o serviço do Yahoo! — o que pode favorecer a migração dos usuários. “O Bing ameaça mais ao Yahoo! do que ao Google”, afirma VanBoskirk. “O Yahoo! tem sido o tipo de buscador de conteúdo, enquanto o Google é um buscador de utilidades.”

Com informações do Adnews

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Destruição da rádio comunitária: triste espetáculo da Anatel


Primeiro foi em São Paulo, com direito a reportagem no Jornal Nacional. No dia 8 de abril, a Anatel destruiu, com autorização da Justiça, oito toneladas de equipamentos apreendidos nos últimos sete anos em operações de fiscalização do Escritório Regional de São Paulo.

Por Lia Ribeiro Dias, no Tele Síntese

A destruição foi realizada no aeroporto de Congonhas, por máquinas cedidas pela Prefeitura da cidade. Para o ato, foi convidado o prefeito Gilberto Kassab, que acionou o rolo compressor para esmagar antenas, transmissores, receptores, discos de vinil e Cds.

Em 27 de maio, o triste espetáculo se repetiu em Betim (MG), quando foi esmagada, também com autorização judicial, 1,5 tonelada de equipamentos apreendidos nos últimos dez anos. O evento também foi amplamente divulgado.

Fiscalizar o funcionamento das rádios e emissoras de televisão e outros serviços que usam o espectro radioelétrico, e apurar denúncias de operação irregular ou não autorizada são funções da Anatel. Funções importantes para impedir a interferência de um serviço em outro e garantir a segurança dos serviços de radionavegação nas proximidades dos aeroportos.

Não raro, a fiscalização da Anatel lacra emissoras clandestinas que prejudicam as comunicações entre aeronaves e a torre de controle. No final de maio, interrompeu o funcionamento de uma rádio FM em São Paulo, com transmissores instalados na Serra da Cantareira, que no dia anterior tinha interferido nas comunicações entre a torre de controle de Congonhas e aeronaves, obrigando três delas a pousarem em outros aeroportos.

Sob holofotes

O fato de prestar um serviço importante não dá à Anatel o direito de politizar o processo de fechamento de emissoras que operam sem autorização, muitas delas rádios comunitárias com transmissores de baixa potência que recorreram à ilegalidade diante do cipoal burocrático de dificuldades para obter uma licença.

O órgão regulador pediu à Justiça autorização para destruir os equipamentos apreendidos ao longo de vários anos, para não continuar gastando dinheiro público com o aluguel do espaço onde se guardava o material. Mas deveria ter feito a destruição longe das luzes dos holofotes da mídia.

O caminho foi justamente o inverso: o script da cerimônia de esmagamento dos transmissores e antenas apreendidos parece ter sido desenhado para reforçar a campanha dos radiodifusores pela criminalização das rádios comunitárias.

É bem verdade que uma parcela expressiva das rádios que se dizem comunitárias são na verdade comerciais, a serviço de causas religiosas ou políticas (estas surgem especialmente em anos eleitorais). Mas uma parcela das 3.652 comunitárias autorizadas a funcionar legalmente, estimada em 20% pela Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), é comunitária mesmo.

Rádios que prestam relevantes serviços sociais e criam um espaço de expressão cultural e social para suas comunidades. Há cerca de outras 12 mil que operam ilegalmente, segundo a Abraço. Muitas não conseguiram se institucionalizar graças ao peso da burocracia, que cresceu exponencialmente depois que o governo, na administração Fernando Henrique, fechou os escritórios regionais do Ministério das Comunicações, concentrando todo o processo de avaliação da documentação dos serviços de radiodifusão em Brasília.

A institucionalização das rádios comunitárias se deu em 1998, com a regulamentação da lei que permite que o governo autorize uma rádio comunitária por localidade, exclusamente em frequência modulada (FM), com a cobertura restrita à comunidade de um bairro ou vila, operada em potência máxima de 25 W e antena não superior a 30 metros.

O novo projeto de lei

Chama também a atenção que a Anatel tenha decidido midiatizar a operação de descarte do material apreendido em operações clandestinas — a fiscalização já fechou rádios com pedidos de outorga em análise no Minicom — pouco depois de o governo enviar ao Congresso Nacional projeto de lei que retira o caráter criminal do ato de operar serviço de radiodifusão sem concessão, uma antiga reivindicação dos setores da sociedade civil ligados à comunicação social.

Somente continuará prevista no Código Penal, sujeita a cinco anos de prisão, a operação sem licença de estação de serviços de radiodifusão que expor a perigo a segurança de serviços de telecomunicações de emergência, de segurança pública ou de fins exclusivamente militares. As outras infrações, como o uso de equipamentos fora das especificações autorizadas e a operação de estação de radiodifusão sem concessão ou licença, deixam de ser crime e passam a ser consideradas infrações administrativas grave e gravíssima, sujeitas a apreensão do equipamento, multa e até suspensão do processo de autorização da outorga.

Embora o projeto de lei não atenda a todas as reivindicações do movimento de rádios comunitárias, ele representa um avanço frente ao quadro atual e, por isso, conta com a oposição da Abert, entidade que reúne os radiodifusores. A polarização indica que as discussões serão acalarodas. Mas o palco do debate é o Congresso Nacional. Não cabe à Anatel tomar partido, politizando uma ação meramente administrativa.

terça-feira, 2 de junho de 2009

'Disk Fonte': o jornalismo papagaio de repetição

Não existe imparcialidade jornalística. Qualquer estudante de jornalismo aprende isso nas primeiras aulas. Quando você escolhe um entrevistado e não outro está fazendo uma opção, racional ou não, por isso a importância de ouvir a maior diversidade de fontes possível sobre determinado tema. Fazer uma análise ou uma crítica tomando partido não é o problema, desde que não se engane o leitor, fazendo-o acreditar que aquilo é imparcial.


Por Leonardo Sakamoto

Infelizmente, muitos veículos ou jornalistas que se dizem imparciais, optam sistematicamente por determinadas fontes, sabendo como será a análise de determinado fato. Parece até que procuram o especialista para que legitime um ponto de vista. Ou têm preguiça de ir além e fugir da agenda da redação, refrescando suas matérias com análises diferentes. Dois amigos, grandes jornalistas com anos de estrada, ajudaram a fazer uma lista exemplar do que estou falando.

Vale ressaltar que boa parte destas fontes são especialistas sérios, reconhecidos em seus campos de atuação e que já deram importantes contribuições à sociedade. Como disse um desse amigos, terem posições conservadoras ou liberais não os descredencia. É um direito que eles têm. O problema são as mídias que sempre, sempre, sempre procuram esses mesmos caras para repercutir. Sempre eles. E somente eles.

Façam um teste e procurem esses nomes no seu jornal, revista, rádio, TV, site preferidos.

Questões trabalhistas? Disk Pastore
(O sociólogo José Pastore, mas sem dizer que ele dá consultoria para a Confederação Nacional da Indústria e a empresários que têm interesse direto no assunto)

Constitucionalismos? Disk Ives Gandra
(O respeitável jurista do Opus Dei não vacila jamais)

Ética? Disk Romano
(O professor de filósofia Roberto Romano)

Questões sindicais? Disk Leôncio
(O cientista político Leôncio Martins Rodrigues)

Ética na política? Disk Gabeira
(O deputado federal Fernando Gabeira, que viaja bastante de avião…)

Ética dos juros? Disk Eduardo Giannetti
(O professor do Ibmec é quase um gênio)

Pau no governo Lula? Disk Marco Antônio Villa
(Historiador. Tiro e queda. Mais pau no governo Lula? Disk Lúcia Hippólito - com a vantagem de ser uma das meninas do Jô)

Relações internacionais? Disk Rubens Barbosa
(Ex-embaixador. Precisa diversificar? Disk Celso Lafer, o ex-chanceler)

Mercado financeiro? Disk Arminio Fraga, o ex-BC
(Não rolou? Disk Gustavo Loyola? Ocupado? Ah, então vamos no Disk Maílson mesmo)

Mercado financeiro mundial? Disk Paulo Leme
(O cara está em Wall Street, pô, sabe tudo…)

Segurança pública? Disk Zé Vicente
(Ele é durão, estava lá dentro, mas fala como sociólogo. E com a vantagem de não ficar falando em direitos humanos para qualquer “resistência seguida de morte”. É o coronel esclarecido…)

Partidos? PT especificamente? Disk Bolívar
(O cientista político Bolívar Lamounier, mas, por favor, não diga que ele é filiado ao PSDB)

Geografia? História? Demografia? Sociologia? Socialismo? Política? Geopolítica? Raça? Relações internacionais? Coreia? Pré-sal? Cotas? Mensalão? América Latina? MST? Pugilistas cubanos? Liberdade de imprensa? Farc? Tarso Genro? Disk Demétrio Magnoli
(Se te ocorrer algum outro assunto, ligue para ele também)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Como produzir um curta-metragem experimental, cult e pseudo-intelectual



Estudantes de comunicação social, geralmente, gostam de praticidade. Assim, posto aqui dicas incríveis de como produzir um curta-metragem experimental, cult e pseudo-intelectual. As dicas são de um estudante de jornalismo do Rio de Janeiro. Você vai gostar, não duvide!

Exposição "Carybé" terminou na tarde de ontem

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Acabou ontem (31) a exposição Carybé, que reuniu esculturas, pinturas, desenhos, gravuras, ilustrações e outros registros, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM). Foi a maior exposição do artista já realizada no estado, montada para celebrar os 70 anos da primeira visita dele à Bahia. A mostra Carybé ocupou os dois andares do casarão e a Galeria 1 do MAM, permitindo aos visitantes conhecer o histórico de trabalho do artista, que tem obras espalhadas pelo Brasil e diversos outros países, incluindo murais e esculturas em locais públicos e quadros em grandes coleções e acervos museológicos.

A exposição no MAM exibiu diversas técnicas e peças em linguagens variadas. Foi uma ótima oportunidade para aproximar adultos e crianças do mundo das artes, já que nas tardes de domingo, além da exposição, as crianças tiveram a chance de participar do projeto Pinte no MAM, programa gratuito realizado semanalmente no local.

domingo, 31 de maio de 2009

Resenha: Emílio Prado e a estrutura da informação radiofônica

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* Jorge Carneiro


Emílio Prado, radialista, jornalista e professor da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, aborda, no livro Estrutura da informação radiofônica, temas intimamente ligados ao radiojornalismo, à sua estrutura, às técnicas utilizadas na sua operacionalização e às dificuldades mais percebidas dentro da sua teia de funcionamento. O texto, dividido em oito capítulos, vai da caracterização do rádio como meio - passando por uma análise acerca da notícia, da reportagem e da entrevista radiofônica - ao debate das fórmulas mais viáveis para a organização no rádio, não deixando de fora importantes dicas sobre como construir crônicas e fazer pesquisa para esse tipo de veículo.

Já na introdução da obra, lançada pela Editora Summos em 1989, o autor conceitua o rádio, advogando ser ele “o sistema de distribuição de mensagens mais extenso, ágil e barato com que conta a sociedade atual” (Prado, 1989). Mesmo considerando que a internet, naquele ano, sobretudo no Brasil, ainda era algo surreal para a maior parte da população, as argumentações apresentadas pelo autor continuam, mesmo na dita “era da informática”, bastante atualizadas, demonstrando, em certa medida, a visão de futuro de Prado.

Citando Brecht, ainda mais atual que Emílio Prado, o livro dá conta de alguns limites radiofônicos, trazendo à baila questões como a tendência das rádios em muito mais transmitir informações, que interagir com o seu público, apostando na cadeia, limitada e clássica, emissor-meio-receptor. A ausência da percepção visual também é apresentada como dificultadora, limitadora do rádio. Mas são os aspectos positivos do rádio, mais ainda do radiojornalismo, que chamam a atenção do leitor: velocidade, acesso, informalidade, entre outros tantos.

Prado também dedica parte dos seus escritos aos temas que se relacionam diretamente com técnicas para quem atua ou pretende atuar no rádio e no radiojornalismo. Apresenta dicas sobre clareza, locução, entonação, ritmo, compreensibilidade e vocabulário a serem utilizados no cotidiano profissional. O autor acaba por fazer um “gancho” entre essas técnicas e temas ligados à atualidade e à rapidez da difusão proporcionada pelo rádio. Aqui, destaca duas características essenciais da tecnologia radiofônica: a simultaneidade e a instantaneidade.

Um elevado grau de cumplicidade entre os que atuam no rádio, independentemente de trabalharem com a elaboração da notícia, com a parte mais técnica ou com a locução, é, para Prado, aspecto extremamente relevante. Daí a necessidade da compreensão global do trabalho radiofônico. O autor defende que todos em uma rádio devem ser capazes de se comunicar com o público externo, de “por a boca no microfone”. Assim, até para quem elabora os textos, fica mais fácil saber a forma mais acertada de redigir as notas que serão “contadas” aos ouvintes. Baseado nisso, o livro discorre sobre técnicas da informação e da escrita radiofônica: pontuação, sinais, observância à estrutura gramatical, uso adequado da linguagem, decodificação, tipos de frase, manipulação subjetiva, tempo verbal, etc.

O livro também destaca aspectos ligados às características e à estrutura radiofônica. Lastreado por autores consagrados, como Spencer, Secanella e Martinez Albertos, Prado argumenta sobre a instantaneidade radiofônica e trata da credibilidade e das tipologias das notícias. Esmiúça as formas, em rádio, de se fazer citação, e dedica boa parte de um capítulo ao estudo das entrevistas: notícia com entrevista, entrevista direta, diferida, de caráter, noticiosa, de informação, estrita e em profundidade, dando dicas de como melhor desempenhar cada uma delas. Exemplos práticos de entrevistas são apresentados textualmente pelo autor, que prima em relatar fidedignamente o passo a passo de uma delas.

Estrutura da informação radiofônica também dedica um dos seus capítulos ao estudo da reportagem, considerado pelo autor como sendo “o gênero mais rico entre os utilizados no rádio desde a perspectiva informativa”. O autor fala dos tipos de reportagens (simultânea e diferida) apresentando condutas mais acertadas para desenvolver cada uma delas. Um outro capítulo pontua fórmulas para organizar o debate no rádio. O autor aproveita para caracterizar a mesa-redonda, o próprio debate, o documentário e as entrevistas relacionadas com o tema.

Por fim, o autor separa uma parte do livro para tratar da crônica, e uma outra para falar da pesquisa em rádio. Prado deixa claro que, em radiojornalismo, a crônica são as informações dos correspondentes, que ofertam uma narrativa dos fatos noticiosos que foram produzidos no âmbito sócio e geográfico coberto por eles. Já a pesquisa é apresentada, a partir de uma citação de Faus, como sendo “a tentativa de constatar um estado de opinião entre os componentes individuais de uma sociedade”. Assim, para o autor, “a utilização jornalística da pesquisa é uma fraude, pois nem os meios nem a metodologia oferecem garantias científicas… Sua utilização no rádio somente está justificada como ilustração fragmentária, como imagem curiosa, ou seja, não existe a pesquisa como gênero informativo radiofônico.

Direto e didático, em Estrutura da informação radiofônica, Emilio Prado dá uma verdadeira aula de jornalismo, de rádio e de radiojornalismo. Ilustrando textos e dando exemplos das facilidade e dificuldades encontradas na produção jornalística em rádio, empolga, desmistifica (além de desmitificar) temas espinhosos que envolvem o mundo jornalístico dos que gostam da área das comunicações e dos que atuam ou pretendem atuar, ou apenas conhecer, a produção e a vivência radiofônica.

* Estudante de jornalismo e professor

sábado, 30 de maio de 2009

Brasil: matéria aborda baixo índice de leitura

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Mais uma produção experimental da disciplina Telefornalismo I, ministrada pela professor Cristina Mascarenhas, na Faculdade 2 de Julho. Trata-se da minha primeira matéria televisiva.

"Nu Caixa": os celulares e as suas possibilidades


Os estudantes do sexto semestre do curso de jornalismo da Faculdade 2 de Julho estão produzindo como nunca. As disciplinas do período, sobretudo telejornalismo e radiojornalismo, estão dando importante contribuição para que isso ocorra. Musicais, rádio-novelas, noticiários para rádio, matérias para tv ...

Postarei aqui, periodicamente, o que for produzido por mim.
Para abrir a série, uma pequena produção feita em parceria com Darfine, ex-colega de sala. A filmagem e a edição foram feitos durante oficina promovida pela professora Dani, de Radiojornalismo. Foi tudo muito divertido e rápido.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Coronel Jorge Santana é suspeito de lavar dinheiro

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Enquanto a enquete do blog aguarda votos, pipoca mais uma novidade nefasta sobre o coronel da Polícia Militar da Bahia, Jorge Santana, ex-comandante da corporação.

Ontem, a sobrinha dele, Miriam Nanci Santana Ferreira, 39 anos, empresária do ramo de açougues; o fazendeiro Zuldário Ribeiro de Oliveira; e o açougueiro João Francisco dos Santos, 50, que teria participação nos negócios de Nanci, prestaram depoimentos na sede do Centro de Operações Especiais da Polícia Civil (COE), após uma espécie de convite. Eles foram surpreendidos por volta das 6h, com o cumprimento dos mandados, em Candeias e Feira de Santana.

A suspeita agora é que o coronel, tão homenageado durante o período em que comandou a PM da Bahia, tenha também participação no ramo criminoso de lavagem de dinheiro.

Confira ...

Poesia (e jornais) para crianças


Por Luciano Martins Costa em 28/5/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 28/5/2009

A edição de quinta-feira (28/5) da Folha de S.Paulo publica, com chamada na primeira página, mais um caso de livro inapropriado distribuído às crianças da rede oficial de ensino paulista. O texto questionado é um poema do designer gráfico e escritor Joca Reiner Terron, que também produz um blog com relatos de viagem e outros comentários. Segundo o autor, citado pela Folha, o poema é realmente inapropriado para crianças. Mas o poema "Manual de Auto-Ajuda para Supervilões", parte do livro intitulado Hotel Hell, pode também não ser próprio para adolescentes, como afirma o jornal. E talvez nem possa ser considerado um poema.

A empresa Abril Educação, do Grupo Abril e ao qual pertence a Editora Ática, produtora do livro didático, afirma, em nota reproduzida pela Folha de S.Paulo, que o livro é recomentado para adolescentes de 13 anos. A Folha não discute essa afirmação, mas o leitor pode julgar por si.

O texto distribuído para crianças de 9 anos e que, segundo aceita o jornal, seria apropriado para adolescentes de 13, diz mais ou menos o seguinte, retirados trechos também impróprios para leitura em público:

"Ao nascer, aproveite seu próprio umbigo e estrangule toda a equipe médica".


Mais que o registro


Só nessa primeira frase a obra mereceria algum reparo antes de ser selecionada, pois o autor confunde umbigo com o cordão umbilical. Mas sigamos. Diz o suposto poema:

"Não vá se entusiasmar e matar sua mãe/ até supervilões precisam ter mães/ (...) tome drogas pra car…/ É sempre aconselhável ver o panorama pelo alto/ Nunca ame ninguém. Estupre/ Execre o amável, zele pelo abominável, seja um pouco afeminado (…)" – e por aí vai.

A qualidade, o valor e a própria natureza de um poema sempre carregam uma dose elevada de subjetividade, mas já que resolveu alimentar a polêmica, o jornal deveria ir mais fundo e questionar o processo de escolha dos conteúdos que são produzidos por editoras privadas contratadas pelo Estado para a produção de material educacional.

Afinal, a sequência de erros nos livros didáticos distribuídos à rede escolar de São Paulo já merece mais do que um mero registro da imprensa. Já se trata de um caso endêmico de equívocos graves.

Jornais para crianças


O tema da publicação de material impróprio para crianças em livros didáticos poderia inspirar alguma reflexão sobre outras questões associadas, como a dos cadernos dos jornais destinados ao público infantil e adolescente.

Sem resvalar para o trauma da censura, que a sociedade brasileira tem ojeriza de enfrentar desde o processo de redemocratização, talvez fosse conveniente também avaliar as histórias em quadrinhos e outros conteúdos que são oferecidos nesses suplementos inseridos nos diários.

Quem sabe algum educador ou especialista em psicologia infantil se disponha a discutir o efeito, sobre a formação das crianças, de personagens de quadrinhos que fazem a apologia do uso de drogas, por exemplo. Afinal, jornal de papel não tem um sistema que permita bloquear conteúdos indesejados, como na TV a cabo ou na internet.

E o leitor atento há de notar que a linguagem utilizada nos cadernos dirigidos a adolescentes é até mais liberal do que aquela aplicada às partes do jornal supostamente destinadas aos adultos.


Mais atenção


Evidentemente, uma discussão desse tipo haveria de provocar reações iradas de muitos editores e com certeza se levantaria a bandeira da liberdade de imprensa contra tal ousadia extremada. Mas, assim como os jornais podem e devem examinar e julgar os conteúdos distribuídos pelo Estado nas escolas públicas, talvez o público devesse poder discutir abertamente o conteúdo que os jornais dirigem especificamente a crianças e adolescentes.

Vivemos em uma sociedade que repudia os controles e valoriza especialmente as liberdades. Ninguém, em sã consciência cívica, defenderia o retorno ao controle do Estado sobre a comunicação social, mas não se pode omitir o fato de que alguns conteúdos de jornais merecem ser melhor analisados.

Gilson Caroni Filho: o antigo silêncio dos influenciáveis


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Nada como folhear revistas e jornais antigos para constatarmos a eterna briga do jornalismo de mercado com fatos que incomodam seus interesses e os dos eternos aliados no campo político.

Por Gilson Caroni Filho*, na Carta Maior


No momento em que tucanos e demos voltam à ofensiva, através de uma CPI que vai bem além da dimensão eleitoreira, adentrando o terreno do entreguismo puro e simples, convém recordar como eram tratadas questões estratégicas nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso. Ainda mais quando sabemos que o verdadeiro alvo é o marco regulatório do pré-sal, em um eventual retorno do consórcio neoliberal ao poder.

Voltemos no tempo, mais precisamente a março de 2004. Como reagiria a opinião pública de uma nação soberana se tomasse conhecimento, por meio de conceituada publicação jornalística, que sua Polícia Federal foi comprada por serviços de inteligência de um país estrangeiro? Que as instituições republicanas são inteiramente controladas por redes de espionagem, e setores expressivos da imprensa local cooptados para produzir uma imagem favorável aos interesses da potência controladora?

Seria impossível conter o terremoto político advindo de tais revelações, salvo se um isolamento acústico fosse imediatamente construído por aqueles que elaboram a agenda da opinião pública. E é nesse ponto, no silêncio consensual do complexo midiático, que reside a atualidade deste pequeno artigo.

Reportagem de capa da edição de CartaCapital, com data de 19/3/2004 ,trouxe à tona um personagem que poderia ter saído das páginas de qualquer romance de John Le Carré. Versão tão patética quanto real do "espião que sabia demais", o português naturalizado americano Carlos Costa chefiou o FBI no Brasil de 1999 a outubro de 2003. Na época, em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, ele foi categórico:

"Os Estados Unidos compraram a Polícia Federal. Há um antigo ditado, e ele é real: quem paga dá as ordens, mesmo que indiretamente".

Não descartando a possibilidade de alguma agência americana ter grampeado o Palácio da Alvorada e o Itamaraty, Costa disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ao pedir equipamentos e recursos ao mundo todo, "se prostitui".

Não menos contundente foi sua afirmação segundo a qual uma das mais importantes funções da embaixada americana no país era manipular a imprensa brasileira. Usando, eufemisticamente o verbo influenciar, o ex-agente não poderia ter sido mais claro:

"Detectamos jornalistas que sejam pró-América e os convidamos a ir aos Estados Unidos com todas as despesas pagas. Essa não era minha área, mas começa assim. Influenciar é mudar o pensamento contrário aos nossos interesses".

E qual seria o modus operandi? Mais uma vez, Carlos Costa foi direto: "Seja lá o que for necessário. Se é comprar, é comprar, há várias maneiras. Mas deixa isso pra lá".

Eis o cenário da realidade brasileira no reinado de Fernando Henrique Cardoso. Agindo com total desenvoltura, uma profusão de siglas tais como a US Customs, DEA, NAS, CIA e FBI faziam de nossa legislação letra morta e tornavam o conceito de soberania nacional, numa perspectiva otimista, uma hipótese a ser permanentemente verificada. Tínhamos, enfim, polícias compradas e submetidas a comandos externos, uma Abin supostamente controlada e formadores de opinião "influenciados". O quadro se tornava mais dramático quando o monitoramento de setores estratégicos do governo era apresentado como rotina.

O que chamou a atenção, há cinco anos, foi a ausência de repercussão da matéria de CartaCapital no Congresso e, acima de tudo, em outros veículos jornalísticos. Por conta de episódios de gravidade bem menor, o conservadorismo põe-se a falar em crise de governo, perda de capacidade administrativa e riscos à coesão social. Clama-se pela instalação de Comissões Parlamentares de Inquérito e o alarido udenista se reflete nos editoriais das empresas que abrigam aqueles a quem Costa chama de "os influenciáveis".

A título de exemplo, por que a denúncia da revista dirigida por Mino Carta não provocou, à época, a mesma comoção que o destempero do então ministro José Dirceu em entrevista ao jornalista Merval Pereira, de O Globo?

Desde sua publicação, o espaço concedido à reportagem de Bob Fernandes foi praticamente inexistente. Uma ou outra nota, até o abafamento total. Qual terá sido o motivo do silêncio reinante nas redações dos principais jornais e revistas do eixo Rio-São Paulo quando o assunto é a ingerência imperialista na política brasileira?

Há nove anos, CartaCapital sistematicamente denuncia o aparelhamento do Estado por agências americanas. Para ser mais preciso, vem historiando um processo que se inicia em 12/4/1995, quando é assinado o Acordo para Combate ao Narcotráfico, e se estende aos dias de hoje, com a DEA efetuando pagamentos a policiais brasileiros.

Na edição de 3/3/1999, a revista já apresentava a CIA controlando o antigo Centro de Dados Operacionais (CDO). À época, Fernando Henrique Cardoso teve grampeada uma conversa com o então chefe do Cerimonial da Presidência da República, embaixador Júlio César Gomes dos Santos.

A que devemos o silêncio dos "influenciáveis?" Traria a matéria denúncias graves sem a verificação adequada? Ausência de fundamentação empírica que indicasse sensacionalismo ingênuo ou petição conspiracionista? Não, CartaCapital tem feito um belo trabalho investigativo. Na edição de 2004, à riqueza de detalhes somam-se fotos que documentam a desenvoltura de Carlos Costa nos salões do poder.

Seria conseqüência da lógica concorrencial das empresas jornalísticas, ignorar os fatos noticiados por veículos rivais? Ante a magnitude do assunto, era pouco plausível uma argumentação de cunho puramente mercantil. O mais sensato seria aprofundar a matéria, focalizando atores políticos relevantes, diretamente envolvidos na questão, tais como militares e estrategistas.

Estaríamos, então, nos deparando com um fenômeno hierárquico presente no interior do campo jornalístico? A existência de um veículo, e apenas um, que pautaria os demais? A história recente da imprensa brasileira impossibilita tal conjectura. Diferentes publicações puxaram o fio da meada de assuntos relevantes e foram seguidas pelas demais. Basta lembrar que o impeachment de Collor começou nas páginas da revista Veja e os principais escândalos do governo FHC foram inicialmente noticiados pela Folha de S.Paulo.

Talvez o desdobramento mais importante da matéria de capa da revista dirigida por Mino Carta tenha sido a ausência de desdobramentos. O silêncio gritante do resto da mídia realçou ainda mais as palavras do agente Carlos Costa, quando define a ação dos serviços secretos sobre os seus diletos profissionais de redação: "Influenciar é mudar o pensamento contrário aos nossos interesses".

Talvez isso nos ajude a entender o arrazoado de certos colunistas em defesa da CPI da Petrobrás, talvez compreendamos com mais facilidade os princípios que norteiam articulistas zelosos na defesa da política externa que privilegiava os objetivos de grandes conglomerados. Quem sabe, nesse prosaico episódio, redescoberto no folhear de um exemplar antigo da melhor publicação brasileira, esteja desnudada a política editorial de várias publicações.

Alguém pode retrucar que a argumentação desenvolvida no parágrafo acima é simplificadora. Certamente. Mas, enquanto os "influenciáveis" não romperem seu pacto de silêncio, qualquer teoria conspiratória terá relevância analítica. Ou repetindo a sabedoria do senso comum: "Quem cala, consente". Just do it.

É bom relembrar quando uma nova batalha se avizinha.

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa

Mídia na América Latina: um setor que tudo pode

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Por Mário Augusto Jakobskind, no Direto da Redação



A sociedade civil do continente está se aprofundando na questão da mídia e não aceita que os espaços midiáticos continuem sob o domínio absoluto de um patronato que tudo pode. No Brasil, o tema da democratização dos meios de comunicação está na ordem do dia. O patronato não aceita nem discutir e responde sempre com o argumento, confundindo liberdade de imprensa e expressão com liberdade de empresa.

Vale então o registro do que acabou de acontecer na Bolívia, até porque este tipo de informação dificilmente é divulgado nos espaços midiáticos conservadores. Por lá, o presidente Evo Morales aprovou decreto reservando espaços dos meios de comunicação para a livre opinião dos jornalistas e outros trabalhadores ligados a sindicatos de imprensa.

O porta-voz da Presidência, Iván Canelas, revelou que todas as opiniões serão assinadas e os meios impressos deverão fornecer o mesmo espaço que se destina aos editoriais. No caso de rádios e televisões, serão disponibilizados três minutos para uso diário.

Alguém deve estar perguntando: mas quem garante que os profissionais de imprensa que emitirem opinião contrária ao da empresa não serão vítimas de represália? Prevendo essa possibilidade, o decreto proíbe qualquer ação repressiva contra quem expôs ponto de vista divergente ao da empresa onde trabalha.

Não será surpresa se o decreto for criticado pela Sociedade Interamericana de Imprensa, que certamente dirá que a liberdade de imprensa corre perigo na Bolívia. O patronato do setor tenta ignorar um fato concreto: proprietário de veículo de comunicação é diferente de um dono de fábrica de salsichas ou algo do gênero.

Antes de o lucro contemplar os seus bolsos, os proprietários de jornais, televisões e rádios têm a obrigação de respeitar a opinião pública e aceitar a pluralidade. Não podem agir como se notícias fossem apenas mercadorias e está acabado.

O Equador é outro país em que a mídia está em debate. No Fórum Equatoriano da Comunicação diversas organizações sociais analisam a proposta de uma nova Lei de Comunicação, que será apreciada pela Assembléia Nacional, que terá até outubro próximo para aprovar uma nova legislação do setor.

O Fórum propõe, entre outras coisas, a divisão eqüitativa dos espaços midiáticos: 33% para os setores público, privado e comunitário. Não se surpreendam, portanto, se em breve a SIP, em parceria com a Organização dos Estados Americanos (OEA) voltar às baterias contra o Equador.

A Argentina também está discutindo uma nova legislação na área midiática. O governo de Cristina Kirchner, que recém enviou projeto para a discussão do tema no Congresso, vem sofrendo duras críticas dos setores conservadores, que se repetem nos diversos meios de comunicação do continente. Ou seja, mesma pauta, mesmos pontos de vista, mesmo tudo, para evitar questionamentos e impedir que a democracia avance nos espaços midiáticos.

No Brasil, o patronato está se armando para evitar que em dezembro próximo, quando será realizada a Conferência Nacional de Comunicação, haja um avanço no processo de democratização dos meios de comunicação.

Como por aqui a mídia hegemônica tudo pode, sem questionamentos, acabou de acontecer um fato lamentável, para variar envolvendo a Rede Globo. Num dos capítulos do seriado Força Tarefa foi abordado o tema milícia, tendo como cenário a comunidade de Rio das Pedras, controlada por paramilitares (milicianos) e teve como ator coadjuvante José Roberto Moreth, mais conhecido como Beto Bomba, no papel de corregedor.

O “ator” da Globo, que também preside a Associação de Moradores de Rio das Pedras, foi apontado pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, Deputado Marcelo Freixo, como uma das 225 pessoas envolvidas com as milícias. Beto Bomba está sendo investigado pelo Ministério Público e é acusado de homicídio e extorsão. A Globo ainda por cima desrespeitou a legislação que exige o registro profissional de ator.

Será que os responsáveis pelo seriado não sabiam disso? Ou será que, como acreditam que a Rede Globo tudo pode, nada acontece, não tem problema algum transformar um marginal como Beto Bomba em ator?

Não é de hoje que a teledramaturgia da Rede Globo faz das suas. Na novela Duas Caras, escrita por Aguinaldo Silva, teve um personagem, Juvenal Portela, interpretado por Antonio Fagundes, que era miliciano. Aguinaldo possivelmente também se inspirou em Rio das Pedras, que na ficção era a Portelinha.

Por estas e muitas outras, os espaços midiáticos não podem agir como bem entendem, visando apenas a corrida desenfreada pelo ibope. E questionar isso não é censura, como muitas vezes acusam os barões da mídia e seus áulicos.

Em tempo: Ao se encontrar neste fim de semana com o presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez, o presidente do Equador, Rafael Correa, disse que quando estiver presidindo a Unasul (União dos países sul-americanos) vai propor formalmente a criação de instâncias que defendam os cidadãos e os governos eleitos legitimamente dos abusos da imprensa. Correa considera a imprensa equatoriana "corrupta, instrumento da oligarquia" e principal "inimigo da mudança", tanto em seu país como na Venezuela.